segunda-feira, 3 de março de 2014

A Voz do Povo é a Voz de Deus?

A Voz do Povo é a Voz de Deus? 

Por Joaquina Pires-O’Brien 

Oriunda do latim ‘vox populi, vox dei’, a expressão ‘a voz do povo é a voz de Deus’ já era 
conhecida entre os antigos Gregos e Romanos, sendo citada por Tito Lívio (59 BCE – 17 
AD) em sua obra Ab Urb Condita Libri (Livros Desde a Fundação da Cidade de Roma), famosa 
narrativa nacionalista da história de Roma. Tito Lívio repudiou a expressão ‘vox populi, vox 
dei’ ao comentar a escolha dos tribunos, servidores da república oriundos da plebe e 
encarregados de manter a paz, através da aclamação popular. 

Outro registro antigo da expressão ‘vox populi, vox dei’ aparece numa carta do abade, 
estudioso e educador inglês Alcuin de York (730s ou 740s - 804), seguidor do venerável 
Bede’ (c. 673-735), endereçada a Carlos Magno, de quem era conselheiro. Nela Alcuin 
sugere a Carlos Magno não dar ouvidos aos que afirmam vox populi, vox dei, já que a voz da 
turba era mais parecida com a voz da loucura do que com a sabedoria divina. 

Nicolau Machiavelli (1469-1527), um burocrata e diplomata a serviço da corte de 
Florença, explorou melhor do que nenhum outro a ideia contida na expressão ‘a voz do 
povo é a voz de Deus’, em seu livro O Príncipe, publicado postumamente em 1532, contendo 
conselhos sobre como ganhar e preservar o poder. Nele Machivelli sublinha a importância 
da relação entre opinião pública e poder, e de manter a aparência de virtuosidade perante 
o público ignorante. Um dos conselhos de Machiavelli aos que desejam segurar o poder é 
dar poder ao povo, cuja voz seria mais constante e mais sábia do que a voz dos príncipes. 

No seu livro O Contrato Social (1762), Rousseau, o influenciador da Revolução Francesa, 
proclamou o direito do povo de se rebelar contra a tirania do monarca atendendo à voz 
da natureza dentro de cada um de nós. Ao procurar analisar o ‘desejo geral’ a fim de 
verificar se o mesmo era capaz de direcionar o Estado a buscar o ‘bem comum’, o objeto 
pelo qual o mesmo foi instituído, Rousseau optou pelo mesmo, apesar de ter reconhecido 
que o povo podia ser enganado a decidir erradamente contra o bem comum. Para Rousseau tudo o que é decidido pelo desejo comum está correto por tender às vantagens 
do povo, uma visão bem dentro daquilo que o filósofo inglês Bertrand Russell descreveu 
como sendo a filosofia política das ditaduras pseudo-democráticas. 

A Idade Moderna que Rousseau ajudou a deslanchar marcou o começo da era ideológica 
caracterizada pela massificação das ideias e da indústria de formação de opinião. A história 
dos séculos dezenove e vinte mostra dezenas de genocídios cometidos com o pleno 
conhecimento e participação da população. A voz do povo é a voz da turba desvairada e 
sedenta de sangue. As massas são seduzidas e manipuladas pelo jogo do ‘nós contra eles’, 
que nada se assemelha à justiça absoluta ou qualquer tipo de justiça que transcende a 
justiça humana implícita na metáfora do Deus. 

A visão de maior profundidade sobre a expressão ‘a voz do povo é a voz de Deus’ é a de 
Stephen Pinker, psicólogo cognitivo e professor da universidade de Harvard. Ele costuma 
afirmar que a violência é muito mais do que uma moléstia social e que não dá para ser 
compreendida pelos ditados populares dos pára-lamas de caminhões. Compreender a 
violência requer pesquisas científicas sobre todos os contextos conhecidos em que a 
violência é fermentada tais como o etnocentrismo, o senso de justiça e a honra. Segundo 
ele, o denominador comum de todo comportamento de violência são as táticas de 
desumanização feitas para rebaixar o indivíduo de ‘pessoa’ para ‘não-pessoa’. A 
desumanização torna fácil a tortura e o homicídio, fazendo com que os mesmos se 
equivalham a jogar uma lagosta viva dentro de um caldeirão de água fervente. 

Na sociedade pós-industrial diminuiu o fenômeno da turba enfurecida e aumentou o 
número de buscadores de poder e peritos em manipular não só o desejo profundo de 
justiça natural mas também as utopias ao mesmo ligado. Conforme mostrou Pinker desde 
a concepção das idéias acerca do Jardim do Éden e do mundo celeste, a história universal 
já registrou um número incontável de utopias. No mundo de hoje, as utopias prevalentes 
são o socialismo Marxista e o ambientalismo. Os ‘zelotes’ atuais são mestres no uso de 
utopias para coagir segmentos do público a atacar indivíduos e organizações fazendo uso 
de bullying, vitimização, difamação e boicotes. Na moderna democracia a voz do povo é traduzida pela eleição, na qual ganha poder 
quem tem o apoio da maioria. O processo da eleição não é infalível, mas mesmo assim 
serve para legitimar a resolução tomada. A fim de impedir que as democracias modernas 
se tornem ditaduras da maioria, foram desenvolvidos uma série de mecanismos 
controladores, como o caráter individual e secreto do voto. 

Reconhecer que o comportamento de turba e outros tipos de violência fazem parte da 
nossa natureza não significa que a sociedade deva aceitá-los. A mesma seleção natural que 
moldou na nossa mente a capacidade de responder inconscientemente a situações 
também moldou a capacidade de controlar nosso instinto de agressão sempre que o 
mesmo vem à tona como uma reação de reflexo instantâneo. Exemplos disso são os casos 
quando temos pensamentos homicidas, mas não agimos sobre os mesmos. No calor do 
momento um marido pode desejar que a sua sogra morra sem ter nenhuma concreta 
intenção de matá-la. O desenvolvimento da capacidade de controlar o instinto 
inconsciente é a base de um dos princípios mais importantes da civilização Ocidental: a 
crença de que a razão pode e irá exercer uma pressão seletiva na direção certa. 
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TODAY
Não acreditamos ser a voz do povo a voz de Deus.
Porque  ?  
Em mateus capitulo 27 fica bem claro oque aconteceu.
La   (na época do julgamento) a multidão optou por libertar um bandido ao invés de libertar Jesus , o qual estava sendo acusado injustamente.
Fica muito claro para quem acredita na bíblia que  de fato a voz do povo (multidão) não tem nada em comum com a Voz (ou vontade) de Deus
para entender  leia mateus capitulo 27

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